A diferença entre esperança, otimismo e autoeficácia

E o que eles têm a ver com os resultados que você alcança.

Tales Gubes
4 min readDec 5, 2017

Continuo minha leitura de SuperBetter, da Jane McGonigal, um livro sobre como levar uma “vida mais jogante” (a gameful life). No capítulo atual, ela está explicando a importância das missões (quests) para criar uma vida com mais significado. Ela percebeu isso quando, acamada e impossibilitada de realizar qualquer ação mentalmente cansativa (incluindo ler, assistir a televisão ou jogar videogame), voltou a encontrar sentido para a vida por meio de pequenas missões que seu marido e sua irmã criavam.

Nas palavras dela:

Se não há nada para fazer em um jogo, nenhum objetivo a perseguir, nenhum outro modo de progredir, o jogador vai parar.

Por mais que sua condição atual a fizesse enfrentar ideações suicidas, Jane sabia que não desejava parar de viver. Usando seu conhecimento de designer de jogos, ela pediu ajuda a seus aliados mais próximos. A sua primeira missão foi olhar pela janela e encontrar algo de interessante para relatar no dia seguinte. Ainda que não lembre o que, exatamente, ela viu, seu relato é de profunda felicidade por ter algo que conseguiria fazer e de antecipação até o dia seguinte, quando poderia conversar com a irmã e mostrar que foi capaz.

Embora pareça pequeno, quase irrelevante, foi uma missão possível para seu estado naquele momento e significou a entrada em um caminho de reencontro com sua esperança, seu otimismo e sua autoeficácia.

Trago mais trechos traduzidos:

Esperança é o que você sente quando acredita que um bom resultado é possível. Um bom resultado pode ser uma emoção positiva que você deseja sentir, um objetivo que quer alcançar, uma mudança que quer fazer, uma tarefa que deseja completar ou um benefício que deseja trazer para os outros. Se você consegue imaginar qualquer bom resultado, não importa quão improvável, você tem esperança. Quanto mais bons resultados diferentes vocês consegue imaginar, mais esperança você tem.

Otimismo é o que você sente quando acredita que um bom resultado não apenas é possível, mas provável. Por consequência, você está disposto a determinar metas mais altas e colocar mais esforço para alcançá-lo. Você também está mais aberto a tentar novas coisas e a seguir o conselho dos outros — duas coisas que com frequência levam a um sucesso maior. É claro, é possível ser otimista demais. Se você for cegamente otimista, pode colocar seus esforços em uma busca infrutífera ou pode falhar em tomar as precauções necessárias para prevenir um resultado negativo. Contudo, no geral, otimismo é uma valiosa fonte de motivação. E você pode facilmente evitar os lados negativos do otimismo concentrando seu tempo e seus esforços em simples ações que realmente são prováveis de resultarem em sucesso.

Autoeficácia é a peça final do quebra-cabeças da motivação. Autoeficácia, como você lembra (o livro trata sobre isso nos capítulos anteriores) é aquele sentimento de “eu consigo fazer isso!”. Quando você tem uma alta autoeficácia, não apenas acredita que um bom resultado é provável, você acredita que um bom resultado está em seu controle direto. Você tem as perícias e habilidades que precisa para lidar com seus problemas e alcançar seus objetivos.

(…) Quanto mais competência e controle você acredita que tem, mais esforço você fará para realizar as coisas que mais importam para você. (pp. 230–231)

Esse trecho do livro mexeu bastante comigo. Por um lado, ele reforça uma leitura que fiz do livro The art of taking action (sobre o qual escrevi no texto A arte de agir). Por outro, ele questiona uma ideia que trouxe em outro texto (Você não está no controle de sua vida). Em dado momento desse texto, escrevi:

O que está sob meu controle são minhas ações. Dada uma situação, eu escolho como agir. O esforço pertence a mim.

Isso é diferente de dizer que tenho algum controle sobre o resultado. O resultado das minhas ações com frequência esbarra nas coisas que não posso controlar. Com esforço dedicado e inteligente, posso tornar alguns resultados mais prováveis, mas jamais um resultado em qualquer situação complexa será uma certeza.

Agora estou em conflito. Embora compreenda que é impossível ter um controle pleno e inequívoco sobre qualquer coisa porque a vida é complexa e pode se atravessar em nossos planos a todo momento, não posso deixar de me perguntar o seguinte: será que abro mão do resultado para não ter que assumir a responsabilidade de ser capaz de realizar? Será que abro mão do resultado para não lidar com a possibilidade de falhar?

Eu realmente acredito que todos somos capazes de fazer acontecer, especialmente quando estamos preparados para isso. Também acredito que somos responsáveis pelas nossas escolhas porque elas dizem do mundo que queremos criar.

Isso tudo me leva a uma pergunta:

Realmente quero continuar acreditando que não consigo controlar os resultados?

No mundo que almejo construir, as pessoas têm autonomia, agência e um bom senso de autoeficácia. Melhor que abrir mão de tentar controlar resultados é aprender a cair e levantar quando as coisas não saírem como desejadas. Melhor que se resignar com o suposto inevitável é aprender a improvisar, dizer sim, entender que os erros fazem parte da vida.

Certamente há muitas coisas que não posso controlar, mas não é nelas que devo me basear para definir o que é possível na vida.

Quando ofereço experiências no Ninho de Escritores ou na Oficina de Carinho, crio um campo de acolhimento e aprendizado. Eu consigo fazer isso como fruto de muito treinamento, mas a ênfase aqui está no eu consigo fazer isso. Meu esforço gera um resultado específico e replicável.

Se acredito que não consigo influenciar os resultados, não preciso me esforçar porque o caos do resultado se produzirá por si só. Se acredito que tenho poder sobre os resultados, aí sim faz sentido me articular para efetivamente exercer essa influência.

Eu consigo fazer isso!

Obrigado, McGonigal.

--

--

Tales Gubes

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.